Dados do Atlas Vision, publicado pela International Agency for Blindeness Prevention (IABV), em 2020, indicavam cerca de 28,6 milhões de pessoas com perda de visão no Brasil, e segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de brasileiros com deficiência visual é de cerca de 6,5 milhões. O que chama a atenção nesse cenário é o fato de que 70% a 80% dos casos de cegueira, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), são evitáveis. E por que não o foram? A resposta é simples. A maioria das pessoas é alheia a importância de ações preventivas e raramente buscam um profissional da área para verificar sua acuidade visual. Daí a importância de campanhas de conscientização como o Abril Marrom.
Sim. Abril é marrom assim como a íris (parte mais visível e colorida dos olhos) da maioria dos brasileiros. A campanha é realizada anualmente com o intuito de contribuir na prevenção, no tratamento e na reabilitação frente aos diversos tipos de cegueira. Na avaliação do médico oftalmologista André Pena, integrante da equipe do Hospital Oftamológico de Anápollis (HOA), as campanhas de conscientização sobre os diversos temas de saúde ajudam a reduzir o impacto das enfermidades na vida das pessoas e, consequentemente, da sociedade, daí a importância que exercem. “Conhecer e falar sobre qualquer situação que possa desarmonizar nosso bem estar físico, psicológico ou mesmo social é ferramenta fundamental para melhor lidar com essas circunstâncias”.
De acordo com a publicação “As Condições da Saúde Ocular no Brasil 2019”, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a cegueira atingia 1,577 milhão de brasileiros (0,75% da população), sendo que 74,8% dos casos teriam prevenção ou cura, o que significa que essas pessoas poderiam estar enxergando, se tivessem recebido tratamento apropriado a tempo. O oftalmologista explica que muitas doenças podem provocar a cegueira, e dentre as causas mais comuns de cegueira evitável tem-se a Catarata, o Glaucoma, as Anisometropias, os Estrabismos, a Retinopatia Diabética e a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI). “Todas essas doenças podem ser tratadas quando diagnosticadas precocemente”, destaca André Pena.
Segundo ele, todos os dados apresentados demonstram a importância da atenção à saude ocular e o impacto extremante positivo na vida das pessoas das avaliações periódicas e do acesso aos mais diversos tipos de tratamentos oftalmológicos (mudanças de hábitos, óculos, lentes de contato, colírios e cirurgias). “O Abril Marrom visa, por um lado, essa conscientização das pessoas sobre o auto-cuidado, e por outro lado, demonstrar à sociedade a necessidade desse acesso às terapias e reabilitações”, acrescenta André Pena.
Por outro lado, existem situações mais raras, como as doenças hereditárias da retina que não possuem tratamento e que levam a perda da visão de forma progressiva e irreversível, acrescenta o médico oftalmologista. “Nesses casos a reabilitação do individuo não pode ser menosprezada, essas pessoas precisam ser acolhidas e incluídas na sociedade de forma autônoma e integral”, completa.
Cuidados na infância
É importante lembrar que cegueira não acomete apenas os adultos. Levantamento da Agência Internacional de Prevenção à Cegueira (IAPB) aponta que, no Brasil, cerca de 33 mil crianças perderam a visão por conta de doenças oculares que poderiam ter sido tratadas precocemente. E uma forma rápida e segura de detectar esses males é o Teste do Reflexo Vermelho ou “Teste do Olhinho”. O médico André Pena, explica que é um exame simples, rápido, mas de grande importância, pois pode diagnosticar precocemente a grande maioria das doenças que levam a cegueira no primeiro ano de vida.
Quanto mais cedo o diagnóstico, maior a chance de tratamento, daí a necessidade da realização o mais precoce possível, de preferência já na maternidade. “Trata-se de um exame feito pelo pediatra ou pelo oftalmologista onde uma luz é apresentada ao recém nascido e seu reflexo é observado pelo médico. Dependendo do aspecto deste reflexo a criança é liberada ou encaminhada para avaliações mais específicas”, esclarece.
Outra questão, e talvez a mais importante, é lembrar que para o perfeito desenvolvimento da visão das crianças o acompanhamento em consultas oftalmológicas periódicas desde o nascimento é fundamental, destaca André Pena. Ele explica que muitas doenças, se não diagnosticadas e tratadas até os sete/oito anos de idade podem prejudicar muito a boa visão para o resto da vida. “Esse acompanhamento deveria ser pelo menos anual”, ressalta.
Falta de acesso e novo estilo de vida
Segundo André Penal, o número de pessoas com algum grau de perda visual vem aumentando gradualmente nos últimos anos e é reflexo de duas situações contempladas pelo Abril Marrom: a falta de acesso à avaliação oftalmológica e o novo estilo de vida das pessoas. No que se refere à dificuldade de acesso ao diagnóstico e tratamento das doenças oculares é nítido que, em momentos de crise social e econômica, o paciente tem muito mais dificuldade em marcar e ir à sua consulta, em conseguir ser operado ou mesmo adquirir seus colírios. “Apesar de os recursos estarem amplamente disponíveis por meio de equipes extremante qualificadas nesse atendimento, o acesso não se dá de maneira natural e adequada”, avalia Pena.
Sobre os novos hábitos das pessoas, que passam cada vez mais horas do dia em exposição às telas, já existe respaldo científico para afirmar que esse uso excessivo de telas é responsável pelo grande aumento de pessoas que passaram a necessitar de algum auxilio ótico, como óculos, lentes de contato ou cirurgia para terem uma visão adequada, afirma André Pena. “Nesses últimos anos, pela necessidade do isolamento social inerente à pandemia do Covid 19, o número de pessoas míopes, por exemplo, aumentou consideravelmente, já que as horas na frente do computador ou dos celulares passaram em muito do limite”, acrescenta.
O uso excessivo das telas pode contribuir para o aparecimento e agravamento do olho seco, das miopias e até de alguns tipos de estrabismo, que são os olhos desalinhados. “Alguns autores já falam da existência de uma “Síndrome do uso excessivo de telas” dado o impacto deste novo hábito nas nossas vidas”, reforça profissional.
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O oftamologista André Pena recomenda alguns cuidados diários necessários à proteção dos olhos
– Ao fazer uso de telas, independente se for no trabalho, no estudo ou no lazer, lembrar de fazer breves intervalos. Uma recomendação interessante é fazer um intervalo de 20 segundos a cada 20 minutos de leitura; nesse intervalo olhar para longe (objetos há mais de seis metros) e piscar os olhos naturalmente.
– Reservar uma a duas horas do nosso dia para atividades ao ar livre, sem telas, também seria o ideal.
– Alimentação saudável e atividades físicas também contribuem para o bem estar físico e mental que não deixam de influenciar na saúde ocular.
– Por ultimo, é importante salientar a necessidade de acompanhamentos regulares com o médico oftalmologista. Muitas doenças oculares se apresentam independente dos hábitos adotados e precisam ser diagnosticadas o mais precocemente possível.